A marca do estilista Ronaldo Fraga

O estilista mineiro Ronaldo Fraga não é só um expert na arte de fazer roupas. É mais que isso. Ele é um exemplo de como uma marca pode ir além do próprio nome. Formado em Estilismo na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com pós-graduação na aclamada Parson´s School em Nova York e na San Martins School, de Londres, Ronaldo Fraga criou a sua grife homônima em 1997. Hoje, ele tem vários pontos de venda no país, já teve suas obras expostas em Museus internacionais e apresentou coleções em diversos lugares do mundo.

Mas, a marca Ronaldo Fraga gerou um valor, que mistura responsabilidade social, turismo, cultura, gastronomia e decoração. Todos esses elementos que compõem o conceito do estilista estão reunidos em seu Grande Hotel, um projeto audacioso e inovador, localizado em um casarão de 1920, tombado pelo Patrimônio Histórico, que reúne a culinária dos grandes chefes de cozinha brasileiros, eventos culturais, seus vestidos, seus produtos licenciados e também outras marcas (toda a decoração do local está à venda!). O espaço virou atração turística em Belo Horizonte.

Aproveitei a vinda dele para uma palestra sobre Branding e Moda, promovida pelo Sebrae Roraima (Obrigada!), para poder entrevistá-lo para a #Damô. Agradeço a confiança dele, principalmente, que por ser tão gentil e acessível.

 

 

#Damorida: Você falou muito sobre verdade na sua palestra. Qual é a sua verdade?

Ronaldo Fraga: Como um dia bordou o artista Leonilson em suas peças, “são tantas as verdades”.

 

#Damorida: Como foi a construção da marca Ronaldo Fraga?

Ronaldo Fraga: Entrei na moda pelo prazer infantil de desenhar e ilustrar estórias, de certa forma é o que eu faço até hoje. Assim nasceu a marca RF e essa característica é mantida até hoje. Lancei a primeira coleção no extinto Phytoervas Fashion, evento que deu origem ao SPFW (São Paulo Fashion Week).

 

 

#Damorida: O mercado da moda está em alta e é super competitivo. Sem falar que estamos vivendo uma era de mudanças contínuas, como conseguir manter uma marca forte por tanto tempo? você faz um brainstorming com a sua equipe para inovar sempre? Ou busca inspiração em viagens para inovar?

Ronaldo Fraga: A identidade da marca é um dos pilares mais importantes, seguido da gestão financeira e administrativa e inovação. Minha equipe é muito pequena e as decisões ainda estão centradas em mim. A inspiração está em tudo e em todo lugar.

 

#Damorida: Você aborda os problemas sociais e políticos nas coleções. Recentemente, a sua coleção com a temática da violência, com destaque o caso da Marielle Franco, tomou conta da mídia e fez imenso barulho. Você pensa na coleção imaginando o impacto que causará?

Ronaldo Fraga: O ato de vestir é por si só um ato político. Essa é uma das faces da moda que mais me seduz bem como essa como vetor cultural. Essa coleção falava sobre Guerra e Paz no Brasil de hoje inspirada na celebre obra de Portinari. Marielle é hoje um símbolo de todas as causas que ela defendia, portanto impossível falar dessas questões sem citá-la. Eu não esperava tanta polêmica sobre isso com tantos assuntos que a coleção/desfile suscitava. Mas, enfim, uma vez em exposição, você  também corre o risco de não ser compreendido.

 

#Damorida: Tratar temáticas de posicionamento político e social, em um meio elitizado como a moda, é uma atitude corajosa. De onde vem essa coragem?

Ronaldo Fraga: Talvez da minha formação e background cultural. Não tenho dúvidas de que independente da profissão que eu tivesse seguido, eu sempre seria esse ser inconformista.

 

#Damorida: Acho que você foi o primeiro estilista a olhar para o Norte do Brasil, com sua coleção sobre Belém do Pará. O que falta para os grandes centros olharem para o Extremo Norte e de que forma poderemos ser notáveis?

Ronaldo Fraga: O que sempre nos falta é cultura e educação de qualidade. É isso que gera afeto e estima de um povo sobre a sua pátria e não estou falando de sentimento nacionalista não! Precisamos romper o quanto antes com essa síndrome de colonizados, esperando o amém da colônia.

 

 

#Damorida: É tendência as empresas serem cada vez mais sustentáveis. No caso da moda, como vender, fazer o mercado girar, e ao mesmo tempo, reduzir o impacto no meio ambiente?

Ronaldo Fraga: Isso não é fácil visto que a indústria da moda é uma das que mais polui, mas as práticas têm evoluído e hoje já existe, ainda pequeno, um mercado consumidor de produtos com selo de procedência. Um dia chegaremos lá.