Jôviajou incentiva mulheres a viajarem sozinhas
Para muitas mulheres, viajar só é motivo de assombro. Por vários motivos: violência, assédio e insegurança de andar sem companhia. Mas, para Jordana Cavalcante, a JôViajou, estar só em uma viagem é uma oportunidade.
Publicitária, turismóloga e professora, ela conseguiu encontrar no estilo #wanderlust, não só um modo de olhar para si mesma, como também de empoderar outras mulheres. Idealizadora do evento “Mulheres Viajantes” em Roraima, Jô mostra que todas podem turistar por aí, com uma dose certa de planejamento.
Por meio do blog, ela dá dicas de lugares fantásticos em Roraima, em outros estados do Brasil e países. Empreendedora, Jordana agora conta com uma loja com o mesmo nome do diário virtual, em que vende artigos fofos de viagem. Realiza pacotes e roteiros turísticos, além de ativar o modo #girlpower de ser. Ufa!😅 Uma mulher multitarefas como tantas, que encontrou na janela do avião (ou do carro, quem sabe?), um celeiro de novas descobertas. Conheçam aqui mais desta viajante!
Como surgiu a ideia de montar um blog sobre viagens?
Jôviajou: A ideia surgiu a partir da crítica que a gente sempre ouve muito aqui em Boa Vista: “Aqui não tem nada pra fazer”. Então, o principal foi atender a necessidade de mostrar o que é possível fazer aqui em Boa Vista. E por eu ter o hobby de querer viajar, eu pensei: Por que não falar sobre as minhas experiências?. Eu já tinha a minha conta no instagram e as pessoas comentavam: Por que você não escreve sobre suas viagens? . Então acabei associando esse problema local, das pessoas não saberem o que tem pra fazer por aqui e também dar dicas de viagens para outros lugares.
O blog já está há três anos no ar e você lançou outros produtos, como o evento Mulheres Viajantes. Conta pra gente um pouco sobre ele!
O evento surgiu a partir do Mulheres Viajantes de São Paulo, que é organizado pela Thaís, e ela foi a minha inspiração. Ela faz esse trabalho com as mulheres locais e eu pensei : “Por que não trazer esse evento para Roraima, já que é um estado tão conservador? E colocar esse trabalho com as mulheres”. Este ano, rolou a segunda edição. Ele surgiu por essa necessidade e também por conta das amigas, que muitas delas perguntam: “ Você viaja sozinha? É corajosa! É doida!”, então foi a partir das minhas experiências de viagens e inspirada no trabalho das meninas de São Paulo, com o mulheres viajantes de lá. A ideia é que essas mulheres aqui do estado viagem e saiam para o mundo.
Como é para você essa experiência de viajar sozinha?
Cada viagem é um desafio, porque são destinos e culturas diferentes. Então, a gente tem que estudar e planejar bem para entender a localidade que se pretende visitar. Para evitar riscos, deve-se buscar todos os detalhes possíveis, porque você viajar já é um perigo, seja para homem ou mulher. Mas, a mulher tem seus enfrentamentos e suas dificuldades, como assédio, locais que você deve ou não andar, a roupa que você veste e as pessoas ainda te julgam ainda. Em determinado país, por mais que você tenha seu estilo de vida, lá também tem sua própria cultura e você deve tentar se adaptar à localidade. E realmente o desafio para quem quer viajar é o medo, mas o medo ele é um pouco inibido com um bom planejamento. Então, saber onde andar, como andar, o horário ideal, quando chegar, com quem chegar, conhecer novas pessoas e tentar sair em grupo nos locais em que está hospedado, ajuda a conseguir continuar viajando sozinha e, até mesmo, ao longo das viagens encontrar alguém que compartilhe isso com você.
Quais são as outras dicas para que as mulheres se sintam mais seguras para viajar sozinhas no Brasil?
Bem, aqui no Brasil, o que facilita é que a gente consegue entender a cultura de cada estado. O planejamento é identificar qual o bairro que você vai ficar, a hospedagem e o seu roteiro, além de entender como funciona cada destino e cada rota dos passeios. Se você vai para uma trilha, por exemplo, procurar um guia e ir com grupo de pessoas. No todo, entender a cultura local, descobrir os horários que abrem e fecham os estabelecimentos comerciais. Se você vai para uma festa à noite, tentar identificar o local, quem são as pessoas que frequentam, como vai ser, e assim por diante.
Como as mulheres podem se planejar para irem sozinhas ao exterior?
As dicas iniciais é decidir o destino. Por exemplo, se você for para a Ásia, você já está em outro continente, então, precisa entender como eles recebem a mulher, qual o papel da mulher naquela sociedade, ou seja, entender a cultura local. Então, depois saber as regiões de hospedagens e os locais que você pretende visitar. E também tem os aplicativos, tem os grupos de viagens que facilitam muito o planejamento.
E quais são os perrengues que você já passou durante as viagens?
Nossa… os perrengues são vários. Mas assim, eu como mulher, apesar de não ser a brasileira do imaginário do estrangeiro, com aquelas curvas, ainda eu passo pelo assédio. Eu calada, normalmente, as pessoas não acham que eu sou Brasileira, mas quando falo, as pessoas pensam que sou fácil, que está aberta para qualquer tipo de cantada. Então, eu passei uma vez por uma situação no ônibus quando estava na Colômbia. Um cara sentou do meu lado e começou a conversar comigo. Aí do nada, tava com um short e uma camisa, tava ficando com frio, aí ele percebeu e apertou o meu braço. Pedi para ele não me tocar. Aí ele disse: “O que passa? Você não é brasileira?”. Eu disse que era, mas que isso não dava o direito dele me tocar. Aí eu levantei e disse para ele que se me tocasse mais uma vez, eu faria um escândalo no ônibus. E tinha outras poltronas vazias, não só a que tinha apenas do meu lado. Isso foi uma das lembranças mais chatas que eu já tive.
As pessoas costumam achar que as mulheres que viajam sozinhas são muito solitárias. O que você diria para quem pensa dessa forma?
Quando você viaja sozinha, não quer dizer que você está solitária, porque você encontra muitas pessoas pelo caminho. É válido também para o seu autoconhecimento, porque você fica muito tempo sozinha, numa viagem de ônibus, por exemplo, e se você não conversar com a pessoa do lado, você pode ler seu livro, ouvir sua música, dormir, olha pela janela e começa a pensa na vida, no que você fez naquele ano, naquele momento. Também pensa nas suas viagens e então estar só é muito relativo. O que é ser solitário? É aquele que é casado e viaja só?, é solteiro e viaja só? O que é solidão? Você pode estar só, com milhões de pessoas ao seu lado e pode estar só estando literalmente sozinha. Então, a solidão é relativa. O principal da busca de se viajar só é você poder se autoconhecer e ter essa liberdade de escolha de fazer o que quiser, na hora que quiser, sem a opinião de ninguém. E, ao mesmo tempo, descobrir que você deixa de fazer muitas coisas que você gosta para agradar outras pessoas.
Quantos países você já conheceu?
No total, foram 17 países, mas eu já conheci toda a América do Sul, tirando as Guianas e o Suriname. Eu procuro conhecer várias cidades de um só país. Então, eu normalmente, passo de 30 a 45 dias de férias no país. Tento entender tudo e viajar tudo. No Brasil, eu conheço 23 cidades e mais o Distrito Federal. Falta Bahia, Mato Grosso, Acre e Macapá.
E como a tua família avalia o fato de você viajar sozinha?
No início, foi difícil no sentido da segurança. Eles sempre falam para eu ter cuidado. Mas, você avisando, fazendo o devido planejamento e compartilhando esse planejamento, avisando onde você vai ficar hospedada, para onde você vai, se você vai para uma área de acampamento, em meio a natureza e ficar dois dias sem internet, você acaba diminuindo essas preocupações. Então, é importante compartilhar todo o roteiro com a sua família e avisar assim que puder e não desaparecer.
Quais os locais que você já foi e que você mais gostou?
Nossa… eu fico entre o Chile e a Colômbia. Eu também gostei muito de Amsterdã e Roterdã.
Quais os próximos destinos?
Eu vou para o Amapá e depois Curitiba. Em seguida, vou para o interior de São Paulo realizar o sonho de andar de balão e saltar de paraquedas do balão, em Boituva. Em Setembro, vou para o Rio de Janeiro, conferir o Rock In Rio. Pretendo ir para a Bahia, visitar a Chapada Diamantina, e à Tailândia em janeiro do ano que vem.
E em Roraima? Quais os destinos que você acha que as pessoas precisam conhecer?
Acho que as pessoas devem conhecer a sua própria cultura, a sua própria identidade. As belezas naturais daqui são incríveis. A Cachoeira Véu da Noiva, nesta época do ano, é só pegar um barco e passa uma tarde lá, é acessível e segura para todas as idades. A Serra do Tepequém, que atualmente, é o nosso principal produto turístico. Agora tá lindo, as cachoeiras estão cheias. E, o Centro Histórico, porque acho que quando você conhece a sua história, você entende mais o seu presente e o seu futuro.
A Jô foi destaque do Programa Partiu Amazônia, que vai ao ar aos sábados na Rede Globo. Pra conferir é só acessar a Globoplay ou clicar aqui no link!
Jordana
Muito bom o post. Obrigada e sucesso nessa jornada. E vamos viajar!!
Raphaela Queiroz
Ficamos felizes que você tenha gostado! Obrigada pela entrevista e vamos viajar, se Deus quiser!
Renata Oliveira
Amei a entrevista! Vou viajar para Manaus próximo mês sozinha e fico insegura, mesmo sendo uma cidade perto de Boa Vista-RR.
Raphaela Queiroz
Vai dar tudo certo! Boa Viagem e divirta-se! A Jô também realiza viagem em grupos somente com mulheres! Fica a Dica!
Jordana
Renata, é assim que começa. Conhecendo lugares próximos. Depois você vai estar no mundo com muita facilidade. Boa viagem e curta muita sua viagem.