Raquel Duarte é um tapa no conservadorismo

Se você tem uma conta no Instagram é  possível ver o  feed de uma mulher ruiva, belíssima e com curvas voluptuosas.  Nas imagens, ela parece uma pintura renascentista.  O nome dela é Raquel Duarte, uma fotógrafa que sai dos bastidores para ficar em frente às câmeras, totalmente nua e botando todo mundo para discutir sobre feminismo, nudez, relacionamentos e cultura. Raquel foi assunto de vários sites, como Ig e Bol, além de matéria da Rede TV.

Gaúcha, casada e mãe. Ela não tem medo de haters. Já teve seu perfil denunciado várias vezes. E, por isso, muita gente que curte os trabalhos dela tem dificuldades de encontrá-la. Como para nós da #Damô, nada é impossível, eis aqui o novo Ig: @Raquel_Duartt_. Hoje você vai conhecer um pouco da musa do autorretrato!

#Damô: O que levou você a criar uma conta de autorretratos no instagram? Foi por causa do bloqueio da sua página no facebook??

O Instagram foi apenas mais um veículo de exposição. Infelizmente, não posso postar meu trabalho no facebook e Instagram na íntegra por causa da censura. Por esse motivo, resolvi criar um grupo no whats para divulgar meus autorretratos apenas para fãs.

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A post shared by Raquel Du’art (@raquel_duartt_9) on Aug 1, 2019 at 8:54am PDT

#Damô: Quem são as suas musas inspiradoras? Vi que algumas fotos suas são inspiradas na Marilyn Monroe..

Várias. Marilyn Monroe sempre foi uma inspiração, pelo carisma e força. Ela enfrentou muitos preconceitos por ser uma mulher à frente do seu tempo. Mulheres fortes como Nahui Olin e Frida Kahlo sempre me inspiraram.

#Damô: Algumas fotos suas parecem pinturas renascentistas. Qual é a dica para as fotos ficarem nesse aspecto? Tem algum filtro especial que você utiliza?

Procuro sempre ambientes claros e como tenho a pele bem clara esse efeito renascentista acaba surgindo naturalmente. Sempre fui apaixonada por artes plásticas, estudei as poses das modelos, a delicadeza das mãos e pés, assim  como a direção e o caimento da luz sobre o corpo dentro do quadro. Acredito que essas observações me levam a reproduzir esses aspectos naturalmente.

Fico muito feliz com o carinho do público. Recebo em média mil seguidores diários. Em pouquíssimo tempo de exposição, já tenho o prazer de compartilhar meu trabalho com mais de 200 mil pessoas. Infelizmente, existem muitas pessoas que não sabem apreciar a arte sensual. Não tolero comentários grotescos e normalmente excluo e bloqueio vários seguidores mal-educados por dia.

#Damô: Você posta muitas opiniões nas legendas das suas fotos e muitas delas deixam os conservadores de cabelo em pé. Você diz que muitos homens, mas principalmente, mulheres, criticam o seu trabalho. Como você analisa esse fato?  

Vivemos em uma sociedade falsamente moderna. O Brasil ainda é um país extremamente moralista. Sou uma mulher atípica, à procura da minha própria identidade. Sou uma mulher profissional, independente e vivo de acordo com os meus próprios princípios. Meu trabalho representa a liberdade de ser única. Desenvolvo uma autobiografia visual onde exponho o que ainda é tabu para as mulheres: o corpo e a sensualidade. Meu trabalho, infelizmente, choca os conservadores que querem encaixar as mulheres em certos padrões de comportamento.

#Damô: Você já sofreu algum preconceito por parte de pessoas próximas ou até mesmo clientes por conta dos autorretratos? Tipo, alguém do seu convívio não concorda com as suas postagens?

Alguns familiares enviaram print do conteúdo do meu perfil para meu marido com frases do tipo “Você vai aceitar sua mulher se expondo dessa forma na internet ?” . Também recebo mensagens longas denegrindo minha imagem de forma extremamente agressiva. Cheguei a ser ameaçada com a frase: “Você está pedindo para ser estuprada!”. Uma mulher chegou ao cúmulo de escrever, assim: “Por causa de mulheres como você que nossos maridos se masturbam. Vocês são a destruição das nossas famílias!”. Eu fiquei completamente chocada! Xingamentos que denigrem a mulher visando apenas sua sexualidade são constantes. Mas isso não me desmotiva, pelo contrário, tenho mais força de vontade de mudar essa consciência opressora. O preconceito por ser uma mulher casada e mãe também é terrível. Isso apenas me incentiva a escrever textos sobre relacionamentos livres de ciúmes, relacionamentos verdadeiros sustentados pelo amor, não pela posse. Críticas me impulsionam a escrever e fotografar com intuito de quebrar paradigmas e mudar essa consciência preconceituosa.

#Damô: Você mostra que gosta muito de ler nas suas postagens. Quais os seus autores preferidos?

Vários. Sou apaixonada por literatura e atualmente estou apaixonada pela obra de Clarissa Pinkola Estés. Tenho profunda admiração por diversos autores como William Shakespeare, Leon Tolstói, Agatha Christie, Harold Robbins, Machado de Assis, Oscar Wilde, Franz Kafka, Clarice Lispector, Angela Cárter, Simone de Beauvoir, Fiódor Dostoiévski, Tobert Louis Stevenson, David Levithan, Francisco de Oliveira, entre outros. Gosto muito de filosofia também. Admiro filósofos como Michel Foucault, Nietzsche e Karl Marx.

#Damô: Você demonstra muita autoconfiança em posar nua. Como conquistar esta autoconfiança em relação ao corpo em meio a tantas pressões?  

Nunca deixei opiniões alheias interferirem em minha autoestima. Sempre existirá pessoas incapazes de enxergar a beleza única de cada mulher. Gosto do meu corpo e procuro mantê-lo em forma, porém, sem neuras.

#Damô: Uma das fotos que gerou mais polêmica no seu ig foi a da cesariana. Por que você acha que essa imagem gerou tanto burburinho?

Somos bombardeados com imagens de mulheres perfeitas o tempo todo, onde não vemos um pelinho fora do lugar. Resolvi quebrar esse paradigma ao me questionar: Por que mulheres sensuais não podem ter defeitos? Tenho uma cicatriz e nunca me senti menos bonita e sensual por causa disso. A cicatriz faz parte do meu corpo e representa o nascimento do meu filho. Ao postar um close da cicatriz junto a um texto sobre o assunto, fui criticada por pessoas que interpretaram minha atitude como tática para chamar atenção da mídia. Disseram que eu estava usando algo triste para as mulheres para ganhar fama, como se eu não fosse mãe e não tivesse realmente a cicatriz. Infelizmente, sempre haverá pessoas distorcendo as coisas. Sei que motivei muitas mulheres e isso é o que realmente importa.

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Os meus ângulos não são politicamente corretos. #ruiva #ruivanatural #ginger #gingergirl

A post shared by Raquel Du’art (@raquel_duartt_9) on Jan 19, 2019 at 7:19pm PST

#Damô: Recentemente, você passou a postar fotos exclusivas no whatsapp. Conta pra gente como surgiu essa ideia e se você pretende realizar outros projetos além das redes sociais. 

Após ter muitas fotografias denunciadas, percebi que eu não estava conseguindo divulgar meu trabalho com autorretratos. Notei que seguidores sempre deixavam o número do whats e me pediam para adicionar, mas eu nunca adicionei ninguém até ter a ideia. Resolvi criar um grupo para fãs e cobrar uma pequena mensalidade de R$20, porém, nunca imaginei o número imenso de seguidores dispostos a acompanhar meu trabalho. Dessa forma, tive que comprar um iPhone novo só para os grupos e estou muito feliz com minha nova empresa. O dinheiro arrecadado é utilizado para viagens, figurinos e tudo que é necessário para produção dos ensaios.

O post foi atualizado. A matéria original foi escrita em 2016 no site raphaelaqueiroz.com. Acessem o novo perfil da Raquel: https://www.instagram.com/raquel_duartt_/